Tala e o Ndonkismo
Por Isidro Fortunato
A Tala, também conhecida como Mbaso ou vulgarmente chamada de mina tradicional, representa um nível de envenenamento que transcende a medicina convencional. Essa realidade explica por que, muitas vezes, os hospitais e laboratórios modernos não conseguem emitir diagnósticos precisos, já que os reagentes científicos se mostram ineficazes na detecção dos componentes utilizados.
A Tala é geralmente composta por uma mistura complexa de ervas, venenos naturais de alta letalidade, fragmentos metálicos, cacos de vidro triturado, e até sangue de determinados répteis. O seu preparo e aplicação fazem uso do vasto conhecimento milenar africano nas áreas da farmacopeia tradicional e da etnobotânica, com substâncias ainda não mapeadas pela ciência moderna.
Essa combinação torna a intervenção médica convencional quase impossível em muitos casos, sendo a taxa de reversão ou cura extremamente limitada.
Por outro lado, surge o Ndokismo — entendido como o desvio espiritual doloso, baseado na intenção deliberada de causar dano, sofrimento e, em última instância, a morte. O ataque ndokista atua em duas dimensões simultâneas: a física e a espiritual, o que amplia a gravidade e profundidade dos efeitos sobre a vítima.
Somente mestres espirituais devidamente iniciados — como um Nganga, um Tahi, um Otchimbanda, um Ngunza ou outros iniciados nas ciências espirituais africanas — possuem o poder e o conhecimento necessários para identificar a origem e a natureza do ataque, reverter os seus efeitos e, em alguns casos, restaurar a saúde e o equilíbrio da vítima.
Em certas circunstâncias, porém, apenas o autor do envenenamento espiritual tem o poder de realizar a cura completa, fechando o ciclo da energia que ele próprio abriu.