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Dona Ana Joaquina: O Poder e a Contradição de uma Mulher Angolana no Tráfico de Escravos

Imagem ilustrativa.

Dona Ana Joaquina: O Poder e a Contradição de uma Mulher Angolana no Tráfico de Escravos

Na cidade de Luanda, o edifício conhecido como Tribunal Dona Ana Joaquina carrega mais do que uma função judicial — é também um marco histórico ligado a uma das figuras femininas mais controversas do século XIX em Angola: Dona Ana Joaquina dos Santos e Silva, também chamada de Dona Ana Mulata.

Nascida em Luanda, filha de pai português e mãe africana, Ana Joaquina representou uma exceção no seu tempo. Numa sociedade colonial dominada por homens, ela conseguiu ascender como uma das maiores comerciantes de escravos do Atlântico Sul. Atuou com destaque a partir da década de 1830, tornando-se proprietária de vastas terras e plantações, como engenhos de açúcar em Icolo e Bengo e fazendas em Golungo Alto e Moçâmedes. Sua fortuna estendia-se para além de Angola, alcançando rotas comerciais no Brasil, Uruguai e Portugal.

Viúva por duas vezes, Dona Ana consolidou seu império ao lado de Joaquim Ferreira dos Santos Silva e, após sua morte, assumiu sozinha os negócios, controlando navios, armazéns e contatos com comerciantes do interior (sertanejos e pombeiros) que caçavam pessoas para a escravização. Possuía uma rede logística que articulava o interior de Angola com os principais portos atlânticos, numa operação de tráfico de pessoas em grande escala.

Além de comerciante, teve um papel político relevante. Manteve estreitas ligações com autoridades coloniais, eclesiásticas e militares. Ana Joaquina sabia ler e escrever, e gozava de prestígio social incomum para mulheres, sobretudo africanas ou mestiças, na época.

Sua residência, um palácio luxuoso em estilo neoclássico localizado na baixa de Luanda, simbolizava sua riqueza e influência. Atualmente, o prédio abriga o Tribunal Provincial de Luanda, o que gera reflexões sobre a perpetuação de nomes ligados a um passado de opressão e escravidão.

A figura de Dona Ana Joaquina é marcada por contradições. Para alguns, ela é um exemplo de liderança e habilidade comercial feminina em tempos adversos. Para outros, sua memória está inseparavelmente ligada a um dos capítulos mais dolorosos da história africana: o tráfico transatlântico de escravos. Sua trajetória revela a complexa participação de elites africanas no sistema colonial e nos mecanismos de escravização.

Dona Ana Joaquina morreu durante uma viagem a Portugal, em busca de tratamento médico, mas seu nome permanece na história de Angola — símbolo de poder, ambição e também das feridas abertas por um passado marcado pela exploração humana.

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