Skip to Content

Quiteca: o espírito mau e ciumento de baixo austral

Voodo e zang Beto espíritos de África
Quiteca: o espírito mau e ciumento de baixo austral

Entre os povos Bantu Kongo, e em particular entre os Kimbundu de Angola, corre um rumor antigo, sussurrado entre os mais velhos e temido pelos mais novos: o Quiteca. Não é apenas uma lenda; é uma presença. Um espírito sombrio, noturno, de aura pesada, conhecido por sua natureza ciumenta e devoradora.

Dizem que o Quiteca não se mostra aos olhos de todos. Ele prefere o oculto, o silêncio da noite, quando a escuridão cobre a aldeia e o vento sopra pelos capins. Sua essência pode manifestar-se em bonecos de madeira ou algodão, como se fossem receptáculos de sua energia maligna. Aqueles que já o sentiram contam que sua fisionomia lembra a perversidade dos bonecos amaldiçoados que aparecem em filmes modernos, mas, diferentemente destes, o Quiteca não ataca apenas com garras ou facas — ele fere na alma.

O Quiteca é um predador espiritual. Alimenta-se do medo, do sangue e das energias vitais daqueles que atravessam o seu caminho. À noite, pode-se ouvi-lo chorar como um bebê, confundindo e atraindo os incautos. Quem o abriga, mesmo sem querer, vê a sua fortuna secar, a família adoecer e o coração tornar-se pesado. Não é um espírito que oferece benefícios — ao contrário, é uma presença que suga até a última centelha de vida e esperança.

O mais inquietante, porém, é a sua natureza hereditária. O Quiteca não é um espírito que se encontra ao acaso. Ele é legado. Passa de geração em geração, como uma sombra que acompanha o sangue da família. É uma herança sombria, uma prisão espiritual, que apenas pode ser quebrada por aquele que tiver coragem de enfrentá-lo e sacrificá-lo, ou de abandoná-lo ao relento, recusando-se a perpetuar a sua maldição.

Assim, entre os Kimbundu, o Quiteca é lembrado não apenas como um espírito mau, mas como um símbolo de escolhas. Cada geração, ao recebê-lo, precisa decidir: entregar-se ao peso da herança ou ousar quebrar o ciclo.

O que se sabe é que, enquanto houver silêncio nas noites angolanas, enquanto houver segredos guardados em bonecos de madeira, o Quiteca continuará a vagar — lembrando-nos de que o invisível, o místico e o temido fazem parte da tessitura espiritual do povo.


Compartilhar esta publicação


Arquivar





Seja um apoiador do nosso canal e ajude a manter nosso trabalho. Obrigado!
Envie seu comprovante para que possamos expressar nossa gratidão

Nosso Produtos
Ao comprar nossos produtos, você está promovendo a arte, a cultura e a educação.
Nosso Parceiro
Zango III, Rua da Dira Proximo ao Tribunal de Julgados de Menores
+244 948 062 055
Sign in to leave a comment
Assalto Cultural à Pantera Negra: O Novo Herói Branco e a Luta pela Representatividade Africana