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Por Que Mais de 40 Países Africanos Ainda Não Imprimem Seu Próprio Dinheiro?



Por Que Mais de 40 Países Africanos Ainda Não Imprimem Seu Próprio Dinheiro?

“A independência política sem independência monetária é uma liberdade incompleta.”

Hoje, mais de 40 dos 54 países africanos ainda não imprimem seu próprio dinheiro e moedas. Bilhetes de banco e moedas são produzidos fora do continente, principalmente na Europa, e enviados de volta aos países africanos — um processo caro, lento e simbolicamente preocupante. A maioria da população desconhece essa realidade, mas ela está diretamente ligada à soberania econômica e ao subdesenvolvimento crônico de muitos países africanos.

 Onde o dinheiro africano é impresso?

  • Reino Unido: A empresa Thomas De La Rue, sediada em Basingstoke, imprime notas para vários países africanos, incluindo Zâmbia e Malawi, há décadas.
  • Alemanha: A Giesecke+Devrient, com sede em Munique, é responsável pela impressão de muitas notas do Quênia, Namíbia, entre outros.
  • França: Os países africanos que utilizam o Franco CFA, como Senegal, Mali, Costa do Marfim e Camarões, ainda dependem do Tesouro francês e da Banque de France para emitir suas moedas.

Por que os países africanos não imprimem seu próprio dinheiro?

Essa dependência tem raízes históricas, tecnológicas e políticas:

1.Legado colonial

Muitos países africanos herdaram sistemas bancários e monetários criados pelas potências colonizadoras. O Franco CFA, por exemplo, foi criado em 1945 e ainda é ligado ao Tesouro francês, mesmo décadas após a independência formal.

2.Falta de infraestrutura

Imprimir dinheiro com altos padrões de segurança requer tecnologias sofisticadas, tintas especiais, papel de segurança e sistemas antifalsificação. Poucos países africanos possuem casas da moeda com essa capacidade.

3. Custo e risco

Montar uma casa da moeda moderna exige investimentos altos. Além disso, há riscos de corrupção, má gestão e insegurança política, que desestimulam investimentos nessa área.

4.Dependência econômica externa

Instituições como o FMI e o Banco Mundial historicamente promoveram políticas que mantêm os países africanos economicamente dependentes, muitas vezes desestimulando a criação de estruturas monetárias soberanas.

Quais são as desvantagens dessa dependência? 
Custo elevado Enviar dinheiro para ser impresso na Europa e reimportado gera custos logísticos e cambiais. Quem paga essa conta? O povo.


Atrasos logísticos Em situações de crise, como inflação ou desvalorização abrupta, a dependência da Europa atrasa a resposta do país, já que é preciso esperar semanas ou meses para receber novas remessas.
Perda de soberania Um país que não controla sua própria moeda não tem total autonomia sobre sua política monetária. Isso limita sua capacidade de estimular a economia, controlar a inflação ou responder a emergências financeiras.


Facilitação do neocolonialismo A dependência de sistemas monetários externos, como o Franco CFA, ainda submete os países africanos a interesses estrangeiros, limitando o desenvolvimento interno.


O que pode ser feito para mudar esse paradigma?
1. Criação de casas da moeda nacionais ou regionais - Países podem investir em infraestruturas locais para imprimir sua própria moeda. Exemplos como a Casa da Moeda da Nigéria mostram que é possível.

2. Integração monetária regional - A criação de uma moeda única africana (como a proposta do ECO na África Ocidental) pode reduzir dependências externas e fortalecer blocos regionais.

3. Investimento em segurança e tecnologia - Com apoio técnico e financeiro, os países africanos podem desenvolver capacidade para imprimir moeda com segurança e qualidade, com parcerias estratégicas e transferência de tecnologia.

4. Educação e mobilização cidadã - As populações africanas precisam conhecer essas questões para exigir dos seus governos maior soberania econômica. Sem pressão popular, a mudança será lenta.

Exemplo de mudança: Nigéria e Sudão do Sul

  • A Nigéria possui sua própria casa da moeda desde 1963, a Nigerian Security Printing and Minting Company (NSPMC), ainda que também tenha utilizado serviços externos em certos períodos.
  • O Sudão do Sul, após sua independência em 2011, também criou sua estrutura monetária local, apesar dos desafios.
  • A Nigéria possui sua própria casa da moeda desde 2024
Conclusão: Moeda é poder

A impressão do dinheiro não é apenas uma questão técnica — é um símbolo de autonomia nacional. Para que a África seja verdadeiramente livre, ela precisa controlar seus recursos, sua política e também sua moeda.

Imprimir nosso próprio dinheiro não é apenas uma questão de orgulho, é uma necessidade para garantir um futuro de soberania, desenvolvimento e justiça econômica para todos os africanos.


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