O Deus do Antigo e o do Novo Testamento: Mudou ou foi reinventado?
Por Salvador Quimuanga | Afrocentricidade e Descolonização Espiritual
A humanidade foi doutrinada durante séculos a temer, adorar e obedecer cegamente a um Deus que, ao longo do tempo, parece ter mudado radicalmente de personalidade. O Deus do Antigo Testamento age com punho de ferro: mata, destrói, castiga e manda exércitos aniquilarem povos inteiros. Já o Deus do Novo Testamento aparece como um pai amoroso, compassivo, paciente e disposto a sacrificar até seu próprio “filho” para salvar a humanidade.
Então, pergunte-se: estamos mesmo diante do mesmo Deus? Ou a história foi manipulada para sustentar interesses religiosos, políticos e coloniais?
1. Deus do Antigo Testamento: Um Senhor de Guerra
No Antigo Testamento, Deus é apresentado como um ser impiedoso e altamente colérico:
- Mandou dilúvio para exterminar a humanidade inteira (exceto Noé e sua família) — Gênesis 6.
- Ordenou genocídios de povos inteiros como os cananeus, hititas, amorreus, etc. — Deuteronômio 20:16-18.
- Punido com morte até por atos banais, como olhar para a Arca da Aliança — 1 Samuel 6:19.
- Assumiu que se arrependeu de criar o ser humano — Gênesis 6:6.
- Mudou de ideia e se arrependeu de castigar, em outros momentos — Jonas 3:10.
Mas espere: como pode um Deus soberano, onisciente e perfeito se arrepender?
Arrependimento é sinal de erro. E erro é humano. O próprio texto diz que “Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa” (Números 23:19), mas mesmo assim, a Bíblia está repleta de momentos em que Ele age como um ser instável.
2. Deus do Novo Testamento: Um Pai Amoroso?
Com o nascimento de Jesus, o “retrato” de Deus muda completamente:
- Deus é amor — 1 João 4:8.
- Jesus prega o perdão, a misericórdia e a paz.
- Os pobres são bem-aventurados; os humildes serão exaltados.
- Em vez de matar pecadores, Deus agora os convida para uma ceia.
A pergunta que não quer calar:
Foi Deus quem mudou ou foi o discurso teológico que foi adaptado?
3. O Fator Político e Colonial da Teologia
Durante o Império Romano e os séculos seguintes, a religião tornou-se ferramenta de controle. Era preciso um Deus que impusesse medo e autoridade para justificar guerras, conquistas, colonizações e escravidão. Mas depois, com a expansão do cristianismo pelo mundo, era necessário um Deus mais palatável. Um Deus que pregasse o amor, a submissão, a esperança no paraíso pós-morte — um ótimo consolo para povos escravizados e colonizados, como os africanos.
A pergunta é direta: Qual dessas faces de Deus é verdadeira? Ou nenhuma delas é?
4. O Que Está Por Trás Desse “Deus Mutável”?
A explicação é mais simples (e chocante) do que parece:
Deus não mudou. O que mudou foi a narrativa sobre Ele.
- O Antigo Testamento foi escrito por sacerdotes hebreus, em contexto tribal, para justificar guerras e a supremacia de seu povo.
- O Novo Testamento foi escrito sob influência greco-romana, com o objetivo de fundar uma nova religião universalista (católica = “universal”) que unisse diferentes povos e culturas.
- Ambos os testamentos, portanto, serviram mais a projetos humanos de poder do que à revelação de uma essência divina imutável.
5. Conclusão: Deus Não É um Homem… Mas Foi Pintado Como Tal
A própria Bíblia afirma que Deus é espírito, eterno e soberano. Mas o retrato que foi feito d’Ele — seja o guerreiro do Antigo Testamento ou o pacífico do Novo — está profundamente contaminado por culturas, medos, guerras e intenções humanas.
Essa é a verdade nua e crua:
A fé que te ensinaram pode ter sido um projeto político. A espiritualidade que nos pertence foi sequestrada. O Deus que nos salvaria virou um instrumento de dominação.
É tempo de descolonizar a mente e o espírito.
É hora de voltarmos às nossas raízes, à espiritualidade africana ancestral, à conexão com os elementos, com os nossos antepassados, com os Deuses que nos conheciam antes da chegada da Bíblia.
Despertar é um ato de coragem.
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