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Novo Papa Americano e o Suspiro de Alívio no Seio Pan-Africanista


Conheça o Papa Leão XIV


Leão XIV (em latim: Leo XIV; em italiano: Leone XIV), nascido Robert Francis Prevost Martínez, O.S.A., em Chicago, a 14 de setembro de 1955, é o novo Papa da Igreja Católica, Bispo de Roma e Soberano da Cidade do Vaticano desde 8 de maio de 2025. Antes da eleição, foi frei agostiniano, bispo emérito de Chiclayo (Peru) e membro da Cúria Romana, onde exercia a função de Prefeito do Dicastério para os Bispos desde 2023.

O Suspiro de Alívio no Seio Pan-Africanista

Para os conservadores da cultura africana e os militantes do pan-africanismo, a eleição de um Papa americano — e não africano — foi recebida com um suspiro de alívio, embora essa sensação não seja partilhada por todos.

No meio afro-cristão católico, a ausência de um Papa negro é vivida por muitos como uma decepção, um sonho adiado. Muitos fiéis, especialmente no continente africano, esperavam ver um representante do seu povo ocupar a cadeira de Pedro. Entretanto, para os pan-africanistas, a ascensão de um Papa negro poderia representar um risco mais profundo: o reforço da doutrinação religiosa como instrumento de subjugação cultural e histórica.

Cristianismo: Fé ou Ferramenta Histórica de Dominação?

A crítica não é dirigida à fé cristã em si, mas ao seu papel histórico e estrutural na colonização e alienação dos povos africanos. A Igreja Católica, como instituição milenar, tem um passado sombrio no continente africano — desde o apoio tácito à escravidão até a destruição de culturas ancestrais sob o pretexto da evangelização.

Assim, para os pan-africanistas, um Papa negro seria uma ironia cruel: um descendente dos oprimidos ocupando a posição simbólica de liderança de uma instituição que historicamente representou seus opressores. Isso não por falta de mérito individual, mas pela leitura sociocultural que um evento desses despertaria.

A Perigosa Profecia e o Racismo Teológico

Diferente do que muitos pensam, a profecia que ronda a figura do "último papa" não está no livro do Apocalipse, mas sim na chamada Profecia de São Malaquias, um arcebispo irlandês do século XII. Segundo essa tradição, há uma lista simbólica de 112 papas, e o último deles seria o que presidiria a Igreja durante grandes tribulações, sendo interpretado por alguns como o "falso profeta" ou colaborador do anticristo.

Essa profecia, embora não seja reconhecida oficialmente pela Igreja Católica, tem sido usada em círculos extremistas e racistas como um argumento de suspeição sobre quem ocupará o trono papal. Se esse papa fosse negro, os teóricos do racismo religioso certamente utilizariam a profecia para alimentar discursos de medo, divisão e preconceito — associando a pele preta ao sinal do fim dos tempos, como já se fez tantas vezes ao longo da história da cristandade colonial.

📌 Leia também nosso artigo anterior: “E Se o Próximo Papa For Negro?” — uma análise crítica sobre as implicações sociais, espirituais e raciais desse cenário.

 

Um Sonho Atrasado ou uma Armadilha Evitada?

Para muitos afrodescendentes, ver um Papa negro ainda é uma esperança legítima. No entanto, o pan-africanismo alerta: seria isso um símbolo de conquista ou uma nova forma de manipulação simbólica?

Antes de pensarmos se o mundo está pronto para um Papa africano, precisamos perguntar se a Igreja está disposta a reconhecer a África como protagonista, e não apenas como missionada. O cristianismo, como estrutura religiosa e cultural, ainda é alheio ao continente, mesmo com milhões de fiéis africanos.

Chamado à Consciência Africana

A comunidade africana e afrodescendente precisa ir além da superficialidade da representatividade simbólica. A pergunta não deve ser “quando teremos um Papa negro?”, mas sim: por que desejamos tanto isso? Será que, inconscientemente, estamos pedindo validação de um sistema que historicamente nos marginalizou?

O cristianismo institucionalizado é parte da herança colonial. A sua estrutura hierárquica, sua doutrina europeizada e sua linguagem simbólica muitas vezes não dialogam com a espiritualidade ancestral africana, mas sim a suprimem. Portanto, é urgente uma revisão de consciência — uma retomada da autonomia cultural e espiritual.

A África Não Precisa de Profecia de Papa

É necessário dizer, com toda a clareza: a África não precisa de uma profecia papal. A África não precisa de um Papa.

Essa não é a nossa cultura, nem a nossa salvação. Não somos herdeiros das instituições romanas, mas sim guardadores de tradições espirituais milenares, que existiam muito antes da chegada das cruzes e dos chicotes.

A eleição de um Papa negro, por mais simbólica que pareça, não representa a libertação dos povos africanos. Pelo contrário, pode significar mais uma armadilha sutil de assimilação e domesticação. Não devemos medir nosso progresso pela aceitação no topo de uma hierarquia alheia, mas sim pela reconstrução da nossa dignidade a partir de dentro, resgatando os valores, os saberes e as espiritualidades que nos foram roubados.

A luta não é por um Papa negro. A luta é por uma África consciente de si mesma, espiritualmente soberana e culturalmente livre.

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Cristianismo: A Arma Ocidental Contra a África
Eles nos deram a Bíblia e levaram a nossa terra."