Pular para o conteúdo

Jesus foi perseguido por Herodes apenas por ser “rei dos judeus”?


Jesus foi perseguido por Herodes apenas por ser “rei dos judeus”?



A narrativa mais comum ensina que Herodes perseguiu Jesus movido por inveja e medo de perder o trono diante de uma criança proclamada “rei dos judeus”. Mas essa é apenas a versão europeia da história, moldada por traduções e escolhas feitas no Concílio de Niceia (325 d.C.), onde a Igreja imperial definiu o que entraria e o que ficaria de fora da Bíblia, com objetivos que beneficiariam a igreja.

Se olharmos com uma perspectiva africana e crítica, percebemos que a perseguição de Jesus pode ter razões mais profundas: não apenas políticas, mas também raciais e civilizatórias.


1. O Reino de Herodes e o nascimento de Jesus: proximidade geográfica


O Reino Herodiano, governado por Herodes, o Grande, abrangia a Judeia, Samaria, Galileia e Pereia (atuais Israel, Palestina e partes da Jordânia e Síria). Sua capital era Jerusalém, onde ficava o centro administrativo e religioso do poder romano na região.

Jesus nasceu em Belém da Judeia, a apenas 8 a 10 km ao sul de Jerusalém, ou seja, praticamente às portas da capital. Além disso, a fortaleza-palácio Herodium, onde Herodes foi sepultado, ficava a meros 5 km de Belém. Isso quer dizer que onde Jesus nasceu era muito próximo ao rei Herodes.

👉🏾 Isso levanta uma questão:

Se Herodes realmente quisesse matar apenas Jesus, bastava enviar soldados diretamente ao local. Não havia necessidade de ordenar um massacre generalizado de bebês.

Essa ordem de matar todos os recém-nascidos pode indicar que Jesus não nasceu tão perto do centro de poder como a narrativa sugere, ou que este nasceu em um lugar distante, fora do alcance do rei, e que, por não ter certeza e informações claras, mandou matar todos os bebês daquela idade.

Se tivesse nascido ali mesmo, a proximidade e a influência de Herodes garantiriam que o menino fosse rapidamente encontrado.

A matança de bebês aponta, portanto, para outra realidade: Jesus nasceu num lugar mais distante e de difícil acesso para os soldados de Herodes, o que explicaria a necessidade da violência aleatória.

Embora alguns defendam que a fuga de Jesus foi possível porque um anjo avisou os pais a tempo, ainda assim, sendo que este nasceu a apenas 5 km do rei, com o poder e a rede de influência de Herodes, eles seriam facilmente capturados no caminho se estivessem tão próximos de Jerusalém.


2. Como Herodes presumiu a grandeza de Jesus?


O Evangelho de Mateus (cap. 2) diz que magos vindos do oriente chegaram a Jerusalém perguntando:

“Onde está aquele que nasceu rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.”

Isso alarmou Herodes. Mas aqui há outra questão:

  • Se esses magos eram tão sábios e guiados por estrelas, por que não foram direto a Belém?
  • Por que chegaram primeiro à capital, levantando suspeitas e “avisando” o rei da existência de Jesus?

Essa incoerência sugere que os chamados “magos” poderiam ter sido, na verdade, emissários ou espiões pertencentes ao próprio rei Herodes, visto que era comum que os reis tivessem magos e adivinhos a seu serviço.

E se fossem magos que vieram de longe para adorar Jesus, o fato de perguntarem sobre ele ao rei demonstra que consideravam ou entendiam que Jesus nascera sob o alcance do rei, acreditando que este tinha controle sobre o menino.

Voltando à lógica acima: estes mesmos magos, após comunicarem o rei sobre o nascimento de Jesus, foram os mesmos que viajaram longas distâncias para dar presentes valiosos (ouro, incenso e mirra), que podem ter servido para ludibriar os pais de Jesus, disfarçando a real missão de sondagem.

Portanto, ao invés de simples sábios viajantes, poderiam ser agentes políticos interessados em confirmar rumores sobre o nascimento de uma criança destinada a se tornar uma figura de grande influência.

É importante lembrar que, quando Jesus cresceu e se tornou bastante influente, apesar de ser considerado “rei dos judeus”, ainda assim Pôncio Pilatos não se sentiu ameaçado politicamente pela influência de Jesus, e nem o considerou um perigo real ao reinado de Roma. Isso mostra outra incoerência: Herodes, no entanto, viu-se ameaçado já no nascimento de um bebê.

E este ponto só mostra que houve aqui alguma coisa que não está clara.

3. A fuga para o Egito e a identidade africana de Jesus


Segundo a Bíblia, José e Maria tiveram que fugir com Jesus para o Egito (Kemet) para protegê-lo.

  • O Egito, conforme demonstrado por Cheikh Anta Diop e outros cientistas africanos, era habitado por povos negros, parte da grande civilização nilótica.
  • Esconder um menino negro entre povos negros fazia sentido. Se fosse uma criança branca, destacar-se-ia e seria facilmente reconhecida.

Essa evidência reforça a ideia de que Jesus era africano, negro, e sua perseguição pode estar ligada também à sua identidade étnica e não apenas à ameaça política.

4. A descrição de Jesus na Bíblia


No Apocalipse (1:14-15), Jesus é descrito com:

  • Cabelos brancos como lã (crespos).
  • Pés como bronze queimado (pele escura).

Essa descrição corresponde muito mais à de um homem africano do que às imagens europeias fabricadas na Idade Média.


5. Sabedoria oral e tradição africana


Jesus ensinava através de parábolas, uma prática central das culturas africanas, onde os anciãos transmitem sabedoria por meio de histórias e metáforas. Essa tradição pedagógica liga diretamente a forma de ensinar de Jesus à herança oral africana.

Mesmo nos dias de hoje ainda é visto que o Ocidente tenta forçar a ocultação das pinturas egípcias antigas, trocando a cor de bronze queimado que reflete a pele negra para tons claros que refletem imagens europeias. Nas esculturas, é comum ver que quebram propositalmente os narizes para ocultar detalhes negroides e assim se apropriar da história, afastando mais uma vez a África da realidade bíblica.


6. Jesus como revolucionário


Muito além de salvador espiritual, Jesus foi um revolucionário que confrontava sistemas injustos:

  • “Quem nunca pecou, atire a primeira pedra” – crítica à hipocrisia religiosa.
  • Curar aos sábados – desafio direto às normas religiosas opressivas.
  • Expulsão dos mercadores do templo – ataque à aliança entre religião e exploração econômica.
  • Caminhar entre pobres, mulheres marginalizadas e doentes – quebra das barreiras sociais.

Esses atos revelam um líder que não aceitava dogmas que sacrificavam vidas, mas que promovia igualdade e libertação.


7. A história se repete: de Jesus a Ibrahim Traoré


O exemplo atual de Ibrahim Traoré, presidente de Burkina Faso, ajuda a entender.

Um jovem negro inteligente que procura justiça e dignidade em seu país e na África em geral. Ele não está sendo perseguido apenas por tentar salvar seu povo da pobreza extrema. Traoré é alvo de atentados e pressões porque é um negro com influência crescente e inspiradora, que ousa bater de frente com o sistema ocidental. Com ele, mais dois presidentes se alinharam ao mesmo ideal e estes vivem sob constante alerta de qualquer ataque ocidental.

É claro que, se no seu nascimento alguém tivesse previsto a grandeza e a ameaça que representaria para a ordem global, ele teria sido perseguido quando bebê. Emissários viriam de tão longe com propostas e presentes para distrair os seus pais, e com aviso de alguém estes também seriam obrigados, de alguma forma, a fugir para não ser eliminados.

Essa presunção bate igualmente com essa história da perseguição de Jesus. Não achas?

Conclusão

Jesus não foi perseguido apenas por ser chamado “rei dos judeus”. Sua perseguição revela algo muito mais profundo:


  • Um africano negro escondido no Egito, ligado à tradição oral do continente.
  • Um revolucionário que afrontava sistemas de opressão política e religiosa.
  • Um líder inspirador cuja influência representava ameaça para os poderosos.

A perseguição de Jesus, assim como a de líderes africanos atuais, mostra que, quando nasce alguém capaz de inspirar massas e desafiar sistemas injustos, cedo ou tarde o poder dominante tentará eliminá-lo.

Africanos, precisamos perceber: a Bíblia não é a palavra de Deus. O Ocidente sempre teve a ideia de dominação, de escolher e determinar o que é de Deus e o que não é. É desta forma que o Vaticano foi erguido e estabelecido como um lugar santo, auto proclamando-se “Vigário de Cristo”, ou seja, Representante de Cristo na terra.

A pergunta é: como é que muitos de vocês contestam isso, mas aceitam a Bíblia como verdade absoluta e palavra de Deus, que este mesmo sistema estabeleceu?

Não precisamos aceitar tudo que o Ocidente nos conta. Somos africanos, somos seres humanos e temos a mesma liberdade de pensar e escrever por nós mesmos, assim como eles escrevem para eles e nos forçam a aceitar.

Compartilhar esta publicação


Arquivar





Seja um apoiador do nosso canal e ajude a manter nosso trabalho. Obrigado!
Envie seu comprovante para que possamos expressar nossa gratidão

Nosso Produtos
Ao comprar nossos produtos, você está promovendo a arte, a cultura e a educação.
Nosso Parceiro
Zango III, Rua da Dira Proximo ao Tribunal de Julgados de Menores
+244 948 062 055
Faça login para deixar um comentário
Etiópia: mesma África, mas calendário diferente
Etiópia 2018 enquanto o mundo está em 2025