A Pobreza em África: Um Projeto Planeado pelo Ocidente, Executado por Líderes Africanos
Durante décadas, a narrativa da pobreza africana tem sido contada como consequência de guerras, falta de recursos ou incapacidade técnica dos africanos. Mas a verdade é outra, mais dura e mais complexa: a pobreza em África é um projeto arquitetado pelo Ocidente e perpetuado por líderes africanos que se tornaram reféns do mesmo sistema que um dia os colonizou.
Hoje, quero falar particularmente de Angola.
Um país abençoado por uma riqueza natural incomensurável: diamantes, ouro, petróleo, gás, madeira, prata, cobalto, águas doces e terras férteis. Todos os anos surgem novos minerais e possibilidades que poderiam transformar a vida do povo. Mas, paradoxalmente, o que vemos é um país mergulhado em pobreza extrema, desigualdade crónica e uma degradação institucional avassaladora.
A Era do Petróleo e a Oportunidade Perdida
Após mais de 30 anos de guerra civil, Angola teve uma rara oportunidade histórica de se reconstruir. Nos anos de glória do petróleo, quando o barril ultrapassava os 100 dólares, o país arrecadou receitas bilionárias. Era o momento ideal para investir em infraestruturas, saúde, educação, agricultura e indústria, promovendo um renascimento nacional.
Mas nada disso aconteceu.
Em vez disso, a corrupção, os desvios de fundos e a má gestão destruíram qualquer possibilidade de progresso sustentável. Em 2013, o país declarou falência técnica. Desde então, a situação só piorou: inflação descontrolada, desemprego crescente, escolas públicas insuficientes, hospitais em colapso, salários que não cobrem sequer uma cesta básica, e uma juventude entregue ao desespero, à delinquência ou à prostituição.
Liderança ou Predação?
Desde 2017, com a nova presidência, prometia-se um tempo de moralização e reformas. Mas o que o povo angolano viu foi mais do mesmo – ou até pior.
Apareceram escândalos atrás de escândalos:
- Relógios de 500 mil euros no pulso de filhos de dirigentes;
- Fortunas ocultas de gestores públicos, algumas ultrapassando os 900 milhões de dólares;
- Desvios de mais de 7 mil milhões de kwanzas;
- Bolseiros fantasmas e bolsas de estudo desviadas em mais de 30 milhões de dólares;
- Satélites pagos e misteriosamente “perdidos”;
- Empresas públicas vendidas sem transparência. E muito mais
Tudo isso enquanto ninguém é condenado, ninguém é preso e a justiça permanece cega e surda ao sofrimento do povo.
Os Sintomas da Insensibilidade
Enquanto o povo clama por pão, saúde e educação, o governo gasta milhões:
- 6 milhões de dólares para trazer a seleção argentina e Lionel Messi para um jogo amistoso;
- Milhões em bandeiras para decorar a cidade durante os 50 anos de independência;
- Carrões de luxo para deputados e altos dirigentes, aviões privados, e viagens milionárias.
Tudo isso num país onde crianças morrem por falta de medicamentos básicos, mulheres dão à luz no chão dos hospitais, jovens abandonam os estudos por falta de dinheiro, e famílias inteiras sobrevivem do lixo.
A Conclusão Inevitável
Fica claro que a pobreza em África – e particularmente em Angola – é um projeto político. É sustentada por líderes viciados no poder, dispostos a subjugar seus próprios povos em troca de prestígio, luxo e favores externos.
Líderes que, em muitos casos, são mais cruéis com o seu povo do que os antigos colonizadores. Não basta culpar o Ocidente – os verdadeiros carrascos do presente vestem trajes africanos e falam a nossa língua.
O povo angolano merece mais.
Merece dignidade, justiça, saúde, educação e esperança. Mas, para isso, será preciso muito mais que eleições. Será preciso consciência coletiva, ação organizada e a coragem de dizer basta.
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