O Racismo é um comportamento de origem europeia
"É frequente que indivíduos africanos e não só, se questionem sobre as origens do racismo e como tudo começou. Neste artigo, vamos analisar as respostas para essa dúvida que aflige muitos. Vale destacar que este texto não tem a intenção de promover ou incitar ódio na sociedade, mas sim de discutir um tema que é realmente significativo."
Ao longo da história, a África foi injustamente retratada por olhares estrangeiros que, sob o véu da curiosidade científica e da exploração comercial, esconderam intenções racistas e colonialistas. Enquanto os povos africanos recebiam os europeus com hospitalidade, respeito e espírito de partilha, os visitantes registravam em seus livros uma visão distorcida e desumanizadora dos africanos. Um exemplo claro encontra-se na obra do tenente britânico John Matthews, que viajou à Serra Leoa no século XVIII e escreveu ideias abertamente racistas sobre os povos africanos.

A hospitalidade africana e o primeiro contacto com os europeus
A chegada dos europeus à costa africana foi marcada, em quase todos os relatos, por uma recepção pacífica. Os africanos partilharam conhecimentos sobre a terra, os rios, as rotas de comércio e até ajudaram os estrangeiros a adaptarem-se ao clima. O comércio, inicialmente de produtos como ouro, marfim e especiarias, foi o primeiro elo entre as duas civilizações. Nunca houve, da parte dos africanos, um projeto de dominação ou exclusão — pelo contrário, o espírito comunitário e de coexistência prevaleceu.
A origem do racismo nos registros europeus
No livro *A Voyage to the River Sierra-Leone* (1788), o britânico John Matthews escreve um dos trechos mais reveladores sobre o pensamento europeu da época. Ele afirma que os africanos seriam 'um tipo de homem destinado pela natureza a habitar a África e a América', e que não deveriam viver na Europa. Essa frase mostra uma tentativa explícita de justificar a exclusão racial e a escravidão com base em argumentos pseudocientíficos e religiosos. Matthews, como muitos outros de seu tempo, tentou naturalizar a desigualdade e o domínio europeu sobre os povos negros, apresentando o racismo como algo biológico, quando na verdade era uma ideologia política e econômica.
A literatura racista e a consolidação do preconceito
Outros escritores e pensadores europeus, ao longo dos séculos XVIII e XIX, reforçaram essas ideias. Entre eles, Ellen G. White — uma das fundadoras do movimento adventista — também escreveu trechos com interpretações raciais e espirituais que colocavam os negros em condição inferior. Ainda que muitos dos seus textos religiosos tenham sido reformulados ou reinterpretados mais tarde, há registros de expressões que refletem a mentalidade racista predominante na sociedade europeia de sua época.
Reflexão final
O racismo, portanto, não nasceu em África. Ele foi importado da Europa e imposto aos africanos através da colonização, da religião e da economia. Os povos africanos, por natureza e cultura, sempre valorizaram a comunidade, a solidariedade e o respeito mútuo. A verdadeira história precisa ser contada — e é essencial lembrar que o racismo é um comportamento aprendido, não um instinto humano. Reconhecer sua origem europeia é um passo para desconstruir as narrativas que por séculos tentaram justificar o injustificável.
Referências bibliográficas
Matthews, John. (1788). *A Voyage to the River Sierra-Leone, on the Coast of Africa*. London: B. White and Son.
White, Ellen G. (1864). *Spiritual Gifts, Vol. 3: Important Facts of Faith*. Battle Creek, MI: Seventh-day Adventist Publishing Association.
Mudimbe, Valentin-Yves. (1988). *The Invention of Africa: Gnosis, Philosophy, and the Order of Knowledge*. Bloomington: Indiana University Press.
Cesaire, Aimé. (1950). *Discours sur le colonialisme*. Paris: Présence Africaine.



